Na natureza, as formas orgânicas são a maioria quando comparadas às formas geométricas. Desde as ondas do mar até os formatos das plantas, a organicidade das formas está presente fortemente por todos os lados.
A necessidade da conexão entre as construções e a natureza não é algo novo. Apesar de estar mais em alta nos últimos anos, muito em virtude dos estudos sobre a Biofilia – logo falaremos mais sobre esse tema -, desde o início do século XX os profissionais dedicam seus estudos para criar projetos mais harmônicos e alinhados com as formas da natureza.
O arquiteto estadunidense Frank Lloyd Wright (1867-1959) desenvolveu através de pesquisas o conceito da arquitetura orgânica ou organicismo, que promove a harmonia entre a habitação humana e a natureza. Wright foi responsável por diversos projetos icônicos, como a casa Fallingwater (A casa da Cascata) e o Museu Solomon R. Guggenheim em Nova York, e acreditava que uma casa deveria nascer para atender às necessidades das pessoas e ser vista como um organismo vivo. Com isso, o design deve ser pensado para se aproximar de uma construção integrada ao máximo com seu terreno e seu entorno. Sua convicção era de que os edifícios influenciam profundamente as pessoas que neles residem, e por esse motivo, o arquiteto torna-se um modelador de homens.
Foto por Rachel Claire
A ideia da arquitetura orgânica se refere não só para a relação literal das construções e o entorno natural, mas também em como o próprio design dessas construções é pensado e desenvolvido para funcionar como um organismo em sua totalidade. Essa arquitetura é ampla e possui um alinhamento entre a natureza e a filosofia humanista, que em termos arquitetônicos transformam as formas em mais adaptáveis e agradáveis para o humano, trazendo um aspecto menos rígido.
Wright apresentou, em seu livro “The Natural House”, seis itens considerados essenciais para a construção de projetos com base na arquitetura orgânica. Confira abaixo:
#1 INTEGRIDADE
Item que afirma a uniformidade do projeto, colocando a obra como uma unidade indivisível, que se relaciona com o ambiente externo e com o próprio interior. Todas as partes têm a mesma importância e estão juntas, sem deixar a beleza e a harmonia de lado, fazendo parte da paisagem.
#2 CONTINUIDADE
A continuidade é expressa de duas maneiras: a espacial e a física. A espacial contempla a integração fluida entre os espaços externos e internos, recusando o conceito de cômodos pensados como caixas; enquanto a física aborda a unidade da fachada como um único plano, sem rupturas.
#3 PLASTICIDADE
A plasticidade é quando observamos uma edificação e não conseguimos diferenciar a forma e a função, aproveitando os conceitos de integridade e continuidade no todo. Levando em conta a neuroplasticidade muito falada atualmente no campo da neurociência, tem a ver com a capacidade de adaptação ao meio de inserção.
#4 NATUREZA DOS MATERIAIS
Valorizando os recursos naturais, esses materiais são fonte de inspiração e criação para os profissionais, devendo ser observados com muita atenção. Os materiais mais utilizados pelo arquiteto eram pedra, tijolos e madeira, em conjunto com materiais industriais, como aço e vidro.
#5 GRAMÁTICA
Considerando toda a construção, o que for observado deve transmitir um único discurso, ou seja, os elementos devem estar harmonizados de tal maneira que falem a mesma língua. A integridade e a continuidade são itens indispensáveis para obter-se essa linguagem única.
#6 SIMPLICIDADE
Uma das principais características da arquitetura orgânica, refere-se à eliminação de qualquer elemento que possa ser acrescentado posteriormente e que não converse com o todo. Porém, não significa falta de graça, e sim respeito com o melhor que a natureza tem a oferecer para cada projeto.
Foto por Charlotte May
ORGANICISMO NOS MATERIAIS
Se você viu nosso conteúdo sobre a tendência Scandicraft (toque aqui para ler), já sabe que a natureza traduzida através dos materiais é uma ótima opção para transformar os ambientes.
A luz solar, mesmo não sendo um material, é um item que também pode ser utilizado como elemento de design! A iluminação natural ajuda a tornar qualquer ambiente mais vivo, pois a luz faz com que as cores se destaquem no mobiliário e nas decorações. Além disso, auxilia no bom funcionamento do organismo como um todo, graças ao alinhamento do ritmo circadiano. Investir em janelas grandes, clarabóias, e outros itens que destaquem a entrada da luz natural pode oferecer um efeito muito benéfico!
Seja nos móveis, nos revestimentos ou nas decorações, a escolha correta dos materiais é capaz de mudar toda a atmosfera do espaço, levando mais aconchego e bem-estar aos usuários. Isso porque, por mais simples que seja, todo detalhe natural já gera um impacto muito grande.
Dicas para a aplicação:
- Diversos são os elementos naturais que podem ser utilizados nos revestimentos, por exemplo. O importante é sempre analisar muito bem o perfil do cliente e o entorno em que o ambiente se encontra, para fazer a melhor escolha;
- Alguns materiais transmitem mais aconchego, como é o caso da madeira e da argila. Outros, podem transmitir mais sobriedade, com os revestimentos cimentícios, o ferro e as pedras. Analise o conjunto completo e use a criatividade para aplicar;
- O grande objetivo é melhorar a conexão do interior com o exterior, então para as cores, a dica é investir em tonalidades que se aproximem das encontradas na natureza, como os tons terrosos e os esverdeados.
Foto por Rachel Claire
Foto por Rachel Claire
FORMAS ORGÂNICAS
Os móveis sem pontas nem arestas tomam conta da décor a cada dia mais. Remetendo visualmente as formas arredondadas da natureza, algo um pouco parecido com as formas do Neotenic Design (toque aqui para ler), é uma proposta que está criando um estilo moderno, elegante e inovador.
Formas arredondadas, como espirais, círculos e curvas são muito utilizadas nos projetos de arquitetura orgânica, assim como as referências aos elementos da natureza, com representações da fauna e da flora.
Foto por Ksenia Chernaya
Foto por Max Vakhtbovych
APLICAÇÃO NA DÉCOR
Apesar do conceito de trazer elementos naturais para dentro de uma residência já ser bastante difundido, é possível conciliar de maneira satisfatória o uso de móveis contemporâneos mesclados com itens de design orgânico.
Assim, mesmo que o cômodo escolhido já possua uma decoração mais moderna, o uso de outros elementos ajuda a balancear seu estilo. Por exemplo, você pode apostar em uma poltrona Charles Eames couro natural, o que unificaria a modernidade do design da poltrona com o uso do elemento couro.
Por meio da harmonização do ambiente, moderno e natural podem trazer um aspecto dinâmico e imprevisível à casa.
Foto por Skylar Kang
Foto por Karolina Grabowska