Os imperfeccionistas formam um grupo de pessoas que foca no autoconhecimento, mas longe do conceito de mindfulness e atenção plena. É menos sobre cuidar de si próprio e mais sobre se conhecer.
Ao ser perguntado sobre as mudanças que gostaria de ver em Cingapura nos próximos 10 anos, um adolescente de 17 anos chamado Fuli disse: “O que importa mesmo é que, daqui há 10 anos, todos farão o que quiserem e não terão medo de serem quem quiserem ser”.
Fuli faz parte da Youths in Balaclava (YIB), uma comunidade de criativos cada vez maior que está chamando a atenção da indústria da moda. O que começou como um grupo de seis amigos, transformou-se em um movimento underground, capaz de atrair um culto de fãs digno das celebridades. E por que YIB? Porque eles são organizados, focados e contrários à cultura Kiasu (uma tradição do país que prega a obsessão por conquistas e a aversão pelas falhas).
“Em Cingapura, você é ensinado a estudar muito para ser médico ou advogado. Você é mal visto se for mal na escola. Mas dane-se tudo isso, algumas pessoas estudam muito, mas depois trabalham em algo que odeiam”, afirmou um membro anônimo da YIB à Dazed Magazine.
Foto por Jonas Verstuyft
Mas é bom lembrar: os imperfeccionistas não estão revoltados – muito pelo contrário. Eles usam o humor subversivo, a ironia e a autodepreciação para admitir suas falhas e seus erros.
Independente da idade, os imperfeccionistas estão adotando alguns comportamentos típicos da Geração X, como o cinismo, o individualismo e o empreendedorismo.
“Quando se tornaram sexualmente ativos, surgiu a AIDS. Quando se formaram na faculdade, a crise econômica de 1987 engoliu o mercado de trabalho. Depois, a bolha das empresas de tecnologia explodiu no meio dos anos 90 e os empregos que a Geração X havia criado para si evaporaram como fumaça”, afirma a pesquisadora Gerlinda Grimes. Apesar do estereótipo preguiçoso, a Geração X simplesmente abaixou a cabeça e seguiu em frente. Mais do que isso, eles não ficaram reclamando sobre o sistema – eles lutaram para mudá-lo. Essa é uma crença fundamental dos imperfeccionistas.
Foto por Clem Onojeghuo
Combatendo a perfeição
Nos últimos anos, houve um aumento de campanhas pregando imagens mais realistas, sem retoques. Embora estejamos nos esforçando para adotar a imperfeição, algumas empresas ainda estão vendendo a perfeição. No entanto, em breve, elas provavelmente não terão escolha.
Para combater imagens irreais e desordens alimentares, a França aprovou uma lei em 2017 que exige um aviso expresso em imagens comerciais onde foram usados recursos digitais. Israel também baniu imagens tratadas pelo Photoshop em 2012.
Foto por Zane Lee
Algumas empresas começam a apoiar a lei, seja banindo imagens modificadas ou incluindo um aviso.
Seguindo essa nova diretriz francesa, a Getty Images decidiu acabar com as imagens onde o corpo foi modificado para menor ou mais magro em todos os mercados onde atua.
Marcas como Glossier e Diesel celebram as imperfeições físicas, mas o que temos acompanhado é a valorização das falhas por meio do humor negro e da subversão, como se fosse uma resposta desses mesmos alvos visuais.
Foto por Pierre Best
Subculturas da apatia
Estão surgindo diversas subculturas que valorizam a imperfeição e até mesmo a preguiça.
A palavra “Kalsarikännit”, traduzida ao pé da letra, significa “ficar bêbado em roupas íntimas”. É esse o nome de um movimento social que está em expansão na Finlândia.
Foto por Edu Lauton
Na China, a juventude urbana está adotando o “movimento sang”, inspirado em um caractere chinês associado à palavra “funeral”. Celebridades da internet, da música, jogos de celular e programas de TV estão usando essa referência para se comunicar com o público jovem. Em Pequim, a loja Sung Tea vende bebidas com nomes curiosos, como o chá preto “Não conquistei absolutamente nada”.
Na Índia, a comunidade Wallflower Girls celebra todos os medos e inseguranças das mulheres na casa dos 20 anos. Elas publicam desenhos divertidos, com personagens com pernas peludas, sobrancelhas sem depilação e corpos normais, com legendas como “são só 3 da tarde. Não, não é para você levar o vinho embora” e “não deixe que surjam questões existenciais”.
Foto por John Noonan
Assista agora, compre agora
As transmissões ao vivo se transformaram em um novo meio de fazer compras em 2017, algo popularizado na China quando a Alibaba incluiu o recurso em seu aplicativo, o Taobao. De acordo com a matéria, “marcas e influenciadores estão trabalhando juntos para criar eventos ao vivo integrados a plataformas de e-commerce. Os consumidores estão se acostumando a assistir a um vídeo e depois ter a opção de comprar o que está na tela apertando um simples botão no smartphone.”
Com a chegada da tecnologia 5G, capaz de aprimorar as transmissões em tempo real, até 2020 outros mercados vão aderir ao movimento asiático do “assista agora, compre agora”.
Foto por Clay Banks
Nos EUA, esse segmento é dominado por lojas de venda direta no Instagram, promovidas por jovens influenciadores. Vale a pena pegar o exemplo do site OHT, uma abordagem levemente voyeurística do processo de compra – cada influenciador vende produtos novos e usados por meio de transmissões ao vivo, diretamente da casa deles. O público pode conversar em tempo real, pedir dicas de estilo ou falar com os outros espectadores. É um verdadeiro paraíso das compras para a geração Z.
O movimento “assista agora, compre agora” também está crescendo junto aos localtivistas para gerar engajamento na comunidade. A loja Khan’s Cheese Shop, em Alkmaar, na Holanda, fez transmissões ao vivo do próprio local por cinco dias. A iniciativa atraiu cerca de 57 mil visitantes e gerou mais de 500 pedidos internacionais.
Foto por Webaroo
Os serviços destinados aos microconsumidores também ganharão mercado em 2020, particularmente aqueles que atraem compradores sem tempo e avessos à tomada de decisões.
A incubadora de tecnologia do Walmart, a Store No.8, está testando um serviço personalizado de compras para “mães nova-iorquinas ocupadas”. Elas podem enviar o pedido por mensagem de texto, que será despachado e entregue na casa delas, gratuitamente, em 24 horas. A empresa também está implementando a tecnologia “Scan & Go” em 100 novas lojas nos EUA, depois do sucesso obtido durante a fase de testes. Por meio de um aplicativo de celular, os clientes escaneiam e pagam pelos produtos.
Esse recurso está se mostrando uma ótima opção para os pais que precisam sair rapidamente da loja por causa dos filhos bagunceiros ou devido a uma emergência familiar.
A 7Fresh, uma loja de produtos básicos do site JD.com, permite aos clientes comprar e pagar por meio de um aplicativo depois que encontram o que querem na loja. Para simplificar a compra, a 7Fresh disponibiliza carrinhos que guiam os compradores até o corredor onde estão os itens da lista de compras deles.
Mas a melhor alternativa de microssegmentação deve ser o e-Palette, da Toyota, uma rede de veículos autônomos que formam “mercados urbanos”. Com a missão de transformar a mobilidade automatizada em um serviço, o presidente da empresa, Akio Toyoda, afirma que os veículos autônomos podem servir festivais de música, feiras públicas e eventos esportivos. O e-Palette é uma solução para marcas e varejistas que queiram testar novos mercados ou grupos de consumidores. A Toyota firmou parcerias com marcas como Pizza Hut, Amazon, DiDi, Mazda e Uber para desenvolver novos conceitos de varejo. A empresa vai estrear o sistema e-Palette nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.